Qual será o futuro das oficinas mecânicas?
Carros elétricos, autônomos, compartilhados e conectados. Há muitas indefinições sobre como será a indústria automobilística do futuro. Veja qual o impacto dessas mudanças para o setor de reparação e como se adaptar a nova realidade.
As oficinas já mudaram muito nas últimas décadas. Deixaram para trás a imagem de um ambiente desorganizado e passaram a ser vistas como centros de soluções automotivas, com locais limpos, arejados e bom tratamento ao cliente.
Contudo, as recentes evoluções tecnológicas desenvolvidas a reboque da internet prometem sacudir o setor nas próximas décadas, fazendo com que as mudanças ocorridas até hoje pareçam simples perfumaria.
Antes de falar das perspectivas de mudanças para o setor de reparação automotiva especificamente, temos que lembrar que esse setor é uma parte integrante – e dependente – da indústria automotiva. E esta, por sua vez, é parte uma das partes que compõem o setor de transportes no mundo.
Portanto, vamos começar do começo e entender o que já está acontecendo e o que pode ser esperado do segmento de transportes e da indústria automobilística daqui para frente.
Mudanças no setor de mobilidade
As mudanças culturais, a globalização e a evolução tecnológica das últimas décadas estão provocando profundas transformações nos negócios. Desde o início dos anos 2000 o mundo já tem mais pessoas morando nas cidades do que em áreas rurais e isso gerou impactos para o setor de transportes.
A mobilidade é uma necessidade para quem mora na zona urbana, mas à medida que mais gente compartilha o mesmo espaço, no caso a cidade, mais complicado fica se locomover.
Por muito tempo o carro foi visto como a solução ideal para o transporte individual de pequenas distâncias. Além de ser rápido e flexível, o carro era um símbolo de status e liberdade para seus proprietários. Porém, esse paradigma tem mudado bastante dado que ter um carro também passou a ser sinônimo de uma série de complicações, tanto individuais quanto coletivas.
Do ponto de vista pessoal, ter carro é um custo alto por conta do valor do veículo, seguro, impostos, combustível, estacionamento, entre outros, além do trabalho exigido para manter a manutenção em dia.
Já do ponto de vista coletivo, o carro se tornou o inimigo número 1 das grandes cidades por questões de poluição e trânsito. Hoje, cerca de 75% do território urbano no mundo é ocupado de alguma forma por espaços relacionados aos veículos, como ruas e estacionamentos.
Alguns dados justificam essa mudança de mentalidade. Segundo levantamento do Ipea, digulvado pelo G1, 18,6% dos trabalhadores nas 9 maiores regiões metropolitanas brasileiras gastam mais de uma hora por dia no deslocamento só de ida de casa para o trabalho.
Adicionalmente, cada dia mais existem alternativas ao carro particular. Além do transporte público, cujos investimentos têm sido cada vez mais cobrados nas cidades, existem opções de transporte individual, como os apps de compartilhamento de carona (Uber, 99, etc.), as bicicletas elétricas, etc.
Essas mudanças de hábito das pessoas ao redor do mundo e a demanda por novas soluções mais eficientes de locomoção individual acendeu a luz de alerta das montadoras, que já começaram a investir em novas tecnologias e modelos de negócio para acompanhar essas tendências.
Evolução da indústria automobilística
Antes de falar dos impactos que a evolução do tema mobilidade vai gerar na indústria automobilística, vamos ver alguns dados:
- A distância média percorrida pelos brasileiros em viagens urbanas é 10,7 km, com duração de 35,2 minutos.
- A maioria dos carros particulares que não são utilizados para fins profissionais fica parado mais de 90% do tempo.
- A ocupação média dos carros é 1,3 passageiro no Brasil.
- Cada vez mais as pessoas avaliam custo de trocar carro por táxi ou apps de carona, de acordo com notícia do G1.
O carro está perdendo o apelo que tinha há algumas décadas. A tendência é que cada vez mais as pessoas busquem pelo benefício que um carro traz, mas sem necessariamente ter um carro, pelo simples fato de que possuir um automóvel próprio já não é mais sinônimo de mobilidade.
Para sobreviver a esse cenário as montadoras já estão fazendo dois movimentos. O primeiro é melhorar o carro em si e o segundo é a forma como elas vão ganhar dinheiro com os carros que produz.
No que tange a melhoria dos veículos, não é surpresa para ninguém que muito se investe em veículos conectados, elétricos e autônomos. A questão a ser discutida são os impactos que essas mudanças vão trazer para a vida das pessoas e empresas. Novamente, antes de prosseguir, vamos considerar alguns dados:
- Carros conectados produzem 25 Gb de dados por dia, segundo reportagem da UOL;
- De acordo com esse estudo, o número total de carros na Europa pode cair de 280 milhões para 200 milhões até 2030 devido à crescente popularidade do compartilhamento de veículos.
O diferencial dos carros passará a ser o software e não mais o hardware.
Montadoras e fabricantes de autopeças já desenvolvem em conjunto peças rastreáveis, dentro do conceito de coisas conectadas. Hoje, o fabricante é capaz de monitorar o motor e uma série de componentes, além de analisar os dados do veículo em tempo real. Assim, será possível otimizar a performance e a vida útil dos automóveis, além de aprimorar o atendimento ao consumidor. Um exemplo real e em funcionamento é o conhecimento prévio do nível de desgaste do carro, que possibilita ao centro de suporte do usuário um atendimento ágil e eficiente.
Levando em conta essas novas tecnologias empregadas nos veículos e que já estão começando a ser comercializadas, já é possível vislumbrar um veículo conectado que vai poder auto detectar um problema mecânico, solicitar automaticamente a peça de reposição ao fabricante, indicar o endereço de uma oficina para entrega da peça e agendar diretamente com essa oficina um dia e horário para a execução do conserto. Mais adiante, ainda é possível imaginar que o carro vá sozinho até a oficina para ser reparado e que o valor do serviço seja cobrado diretamente no cartão de crédito do proprietário.
Em paralelo, as montadoras vão deixar de apenas produzir e vender carros e também se tornarão fornecedores de serviços para os carros e seus proprietários (ou usuários). E isso já está começando a virar realidade. No Japão, por exemplo, uma marca de carros passou a oferecer um serviço de compartilhamento de seus veículos.
Adicionalmente, se os carros autônomos elétricos se tornarem realidade no futuro, isso pode significar o fim para a propriedade do carro. A posse de novos carros poderá se tornar como um clube de motoristas parecido com condôminos em um condomínio.
Engenheiros mecânicos tendem a ser substituídos por engenheiros de software.
Essa e outras mudanças vão alterar de forma radical o negócio de todos os setores econômicos relacionados direta e indiretamente à indústria automotiva. Concessionárias, estacionamentos, seguradoras, oficinas, etc. Todos precisarão se reinventar para se adaptarem à nova realidade que se impõe. As oficinas estão inseridas no universo da indústria automotiva. À medida que esta muda as oficinas precisam se adaptar. E a boa (ou má) notícia é que grandes mudanças vêm por aí.
Mudança nas oficinas
Há 20 anos um mecânico diagnosticava problemas de carro somente abrindo o capô e sujando a mão de graxa. Hoje, os fabricantes de automóveis incluíram tantos itens eletrônicos nos veículos que os volantes às vezes lembram cabines de avião. Um veículo de luxo hoje, como um Audi, tem cerca de 75 módulos de computador. Em decorrência disso, em muitos casos, no dia-a-dia das oficinas, um diagnóstico já é feito sem usar nenhuma ferramenta, mas apenas um computador que é plugado na porta OBD do veículo e que dá ao reparador acesso a todos os módulos de controle eletrônico do carro. Isso faz com que seja muito mais apropriado chamar os profissionais de reparação de técnicos e não mais mecânicos.
Com o advento dos veículos elétricos e conectados a manutenção e reparo dos veículos tende a ser ainda mais automatizado. Isso pode significar uma grande ameaça para as oficinas mecânicas.
Os fabricantes de automóveis apenas começaram a explorar maneiras de expandir as oportunidades de negócios que poderiam ser construídas em veículos conectados e todos os dados que acompanham. A tecnologia Onstar da Chevrolet, por exemplo, que já está disponível no Brasil desde 2015, diz aos clientes quando eles precisam de fazer manutenções como a troca de óleo e a substituição das pastilhas de freio. Essas recomendações não se baseiam na quilometragem fixa, como é tradicional das montadoras, mas em sensores que monitoram o que está acontecendo no carro e no ambiente externo. Na mesma linha, a Tesla afirma que pode detectar cerca de 90% dos problemas mecânicos dos seus veículos remotamente.
Com esses dados em mãos as montadoras terão cada vez mais controle dos veículos e possibilidades de gerar negócios. Sabendo do potencial de mercado dos serviços de reparação, as montadoras podem trabalhar para verticalizar a gama de soluções que oferece aos seus clientes, oferecendo de forma preditiva diretamente aos motoristas serviços mecânicos. Num cenário assim, as oficinas sofreriam muito pois seria muito difícil competir.
Isso impactaria não apenas as oficinas, mas também as distribuidoras de peças, que, juntamente com oficinas, não estão associadas a uma montadora.
O serviço como diferencial
Do conforto do sofá, hoje você já pode fazer compras no supermercado, comprar eletrodomésticos, livros e contratar churrasqueiros. Mas quando se trata de consertar o carro, é uma questão diferente. Você tem que ligar com antecedência, pedir orçamento, aguardar para receber, agendar um horário, deixar seu carro e retirá-lo novamente assim que o serviço for finalizado.
Não vejo a morte eminente, mas acho que haverá uma perda da pequena garagem do bairro. Na verdade, perdemos muitos nos últimos anos. O custo dos computadores de diagnóstico tem sido mais do que muitas lojas podem pagar.
Reparos maiores e lojas de serviços de automóveis não devem ter problemas no futuro próximo se continuarem atualizando seus técnicos. Os centros de reparação e manutenção de automóveis poderiam continuar com cada COA para atender e reparar sua frota de veículos. Contratar com COAs poderia ser muito benéfico trazendo mais negócios para lojas de tamanho médio. Dessa forma, o acesso a dados de veículos interconectados e a formação contínua manterão os centros de reparos em serviço no futuro.
Período de transição
Apesar de estarem sendo criadas numa velocidade altíssima, todas essas mudanças ainda vão demorar muitos anos para ganhar as ruas e virarem maioria.
Se a frota de veículo do Brasil atingiu em 2017 uma idade média de 9,4 anos (apenas 34% tem até 5 anos, Istoé) e a perspectiva é que os primeiros modelos autônomos comecem a ser vendidos somente em 2022, mesmo que 100% dos carros vendidos fossem autônomos, somente em meados de 2030 a maioria da frota seria formada por veículos autônomos.
No curto prazo, enquanto as oficinas de reparação de automóveis fizerem várias tarefas entre o treinamento e o serviço, eles estarão bem. A longo prazo, eles terão que trabalhar arduamente para se manter atualizado com todas as novas inovações sob o capô. Até 2030, é bem possível que estes técnicos de automóveis possam ter que ser tão nerd como os melhores programadores de computador de hoje!
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