REVISÃO DO MOTOR DE ARRANQUE
1. PARA QUE SERVE O MOTOR DE ARRANQUE?
O motor de arranque, também conhecido como motor de partida, serve para colocar o motor principal em movimento até que ele possa trabalhar por conta própria. Sua função é transformar a energia elétrica fornecida pela bateria em energia mecânica. Ele gera força suficiente para começar a mover os pistões no interior dos cilindros do motor e fazer a primeira compressão do motor – processo importantíssimo para o desempenho do carro. Quanto maior a compressão, maior a temperatura final da combustão e, consequentemente, a velocidade. Com isso o motor ganha um impulso para começar a funcionar após a inércia, um período de movimento regular.
2. QUAL É A VIDA ÚTIL DO MOTOR DE ARRANQUE?
Você pode nunca precisar trocar o motor de arranque. Trata-se de um sistema pouco utilizado, só entra em funcionamento quando é dada a partida no carro e depois desliga. A sua duração está mais relacionada com os hábitos do motorista do que com o desgaste dos componentes conforme a quilometragem. Quanto maior a quantidade de partidas, maior o desgaste.
Em média, sob condições ideais, o motor de arranque pode durar até 50 mil quilômetros.
Em contrapartida ao pouco uso, o motor de arranque é a peça que mais consome eletricidade da bateria. Isso porque ele trabalha sem a ajuda do alternador – que gera energia para o veículo quando o motor principal está em funcionamento. Logo, falhas na ignição podem estar ligadas a fonte de energia do seu carro e não ao mal funcionamento desse sistema. Ao mesmo tempo, o mal-uso do motor de partida pode prejudicar a bateria do carro. Vamos falar mais sobre esse assunto no item 6.
Como preservar o motor de arranque para aumentar sua duração?
Dica #1: Tome cuidado ao dar a partida! Volte sempre a chave na posição inicial e não force se o carro não pegar. Mais de 10 segundos com o sistema de ignição acionado requer muita força e acaba superaquecendo, causando a queima das peças.
Dica #2: Não acione a chave quando o motor já estiver ligado! Isso faz o motor de arranque girar mais que o necessário, prejudicando o fluxo do motor do carro e danificando o conjunto todo.
3. PARTES DO MOTOR DE ARRANQUE
O motor de arranque é composto de muitas partes mecânicas, elétricas e eletromagnéticas que garantem a realização das suas funções. Vamos dar uma olhada nelas:
I. Tampas
São as tampas que ficam nas extremidades fechando o motor de partida. Ambas servem para sustentar o mancal para o eixo central do sistema – ele gira apoiado em algumas buchas de latão, o que diminui o desgaste do reduzido. A tampa traseira serve ainda de suporte para o solenóide.
II. Conjunto do Estator
É o conjunto que cria o campo magnético. É formado pela junção da carcaça com as sapatas polares – peças que criam um campo magnético forte o suficiente para suportar a bobinas, elas também ajudam a reduzir perdas magnéticas do conjunto e têm grande permeabilidade magnética – ou por uma única bobina, em modelos antigos.
A. Carcaça
É a cobertura central do motor de arranque. Tem um formato cilíndrico, encaixa-se nas tampas, e aloja toda a estrutura no seu interior. Faz papel de pólo negativo, servindo de apoio para as massas polares. Normalmente é fabricada em aço ou liga leve.
B. Solenóide/Chave Eletromagnética/Relé de Acionamento
É uma peça cilíndrica acoplada na parte superior do motor de arranque. Ela é formada por duas bobinas, de retenção e de atração, e por um condutor de corrente elétrica composto por fios em espiral que formam um campo magnético em seu interior. Dentro desse condutor, passa um cilindro de metal com alta permeabilidade magnética ligado a uma haste que se liga na alavanca do pinhão.
Na parte de trás, há dois pólos. Um deles é ligado ao terminal positivo da bateria e o outro a carcaça motor de arranque.
C. Pinhão do Engrenamento (Bendix) ou Impulsor de Partida
O pinhão está encaixado na frente do induzido. Quando é empurrado, se desloca pelo fuso de avanço até encontrar a cremalheira.
III. Rotor (Induzido)
Tem a função de transformar energia elétrica em mecânica giratória. É um eixo composto por diversas peças. Na parte da frente existem estrias que encaixam no interior do pinhão. A parte externa do conjunto são as canaletas, peças metálicas dispostas ao redor para proteção de onde são colocadas as bobinas. Estas por sua vez, ligam-se atrás a um conjunto de lâminas de cobre que juntas formam o Coletor, responsável por receber a corrente elétrica fornecida pelas escovas.
IV. Conjunto do Comutador
É formado por um mancal – peça que serve apenas para apoio os eixos centrais -, pela tampa traseira, o porta escovas, algumas molas que ajudam no encaixe das peças, e a base do comutador. Sua função é interligar eletricamente o induzido ao enrolamento de campo (conjunto do estator). O conjunto do comutador também protege, centraliza e isola algumas peças.
A. Suporte de Escovas ou Porta Escovas
Fica na parte de trás do motor de partida. Possui quatro cavidades onde estão as escovas e as molas que as empurram sobre coletor do Induzido para lhe transmitir energia. Duas delas são ligadas ao negativo da bateria (aterramento) e as outras, ao positivo através de um interruptor que é ligado quando a solenóide é acionada.
V. Garfo (Alavanca)
É uma haste que vai conectada ao núcleo do ferro acionador que transfere o movimento do induzido ao conjunto do pinhão.
VI. Núcleo de Ferro Acionador
Cilindro que aloja o garfo. A sua função é de fechar o automático e movimentar o garfo.
VII. Automático
São contatos que agem como interruptor. É por ele que vai circular a quantidade correta de corrente elétrica para girar o motor.
VIII. Roda livre
É uma peça muito importante para a eficácia do sistema. Ela permite o acionamento do motor de combustão pelo pinhão ao mesmo tempo que o afasta do conjunto. Isso evita que o motor do carro acione o motor de partida de o destrua.
4. COMO FUNCIONA O MOTOR DE ARRANQUE?
Ao girar a chave de ignição, você alimenta o seu motor de arranque a partir do cabo positivo do conjunto estator. Essa corrente elétrica permite o funcionamento da solenóide. Quando o solenóide é energizado, o campo magnético irá atrair, como um imã, o núcleo de ferro acionador e o garfo que irá empurrar o impulsor de partida até que ele encaixe na cremalheira, engrenagem acoplada ao volante do motor principal (também chamado de coroa).
Se o pinhão encaixar: ele girará, já que o cilindro metálico é atraído para dentro do solenóide fechando o contato do induzido, acionando o motor de combustão.
Se o pinhão não encaixar: o cilindro de metal atraído novamente para dentro do solenóide vence a força da mola de retorno e fecha o contato do induzido. Este começa a girar. Então o pinhão encaixa na cremalheira.
Ao mesmo tempo, se estabelece o contato dos dois pólos, (solenóide e porta escovas) enviando tensão para o induzido que começa a girar. Neste movimento, a coroa gira, colocando o motor do carro em movimento. No momento que você liberar a chave do contato, a bobina de tração da solenóide é desenergizada, e apenas a bobina de retenção passa a agir. Esta mantém um campo magnético forte o bastante para segurar o núcleo no lugar, o que deixa o motor em movimento. O motor de arranque para de funcionar porque a partida já foi dada e o interruptor permanece ativado até que o comutador seja desligado.
5. TIPOS DE MOTOR DE ARRANQUE
Os motores de arranque diferem quanto os seus mecanismos de engrenagem. Existem três tipos. Vamos falar sobre eles agora:
a) Motor de Partida com Fuso de Avanço e Alavanca de Comando:
Este modelo é o que utilizamos para explicar as peças e o funcionamento pois é o tipo mais usado atualmente. Chama assim pois contém o garfo, a alavanca de comando que encaixa no pinhão e o move em direção a cremalheira. A alavanca mantém o pinhão encaixado até que seja desativada quando o motor principal entra em funcionamento.
Vantagens: Atende às necessidades do veículo e envolve menos peças para o trabalho. Se custo de manutenção é menor.
Desvantagens: É suficiente, mas a potência não é tão alta. Mudanças no carro podem interferir no seu funcionamento, como alterações na potência do motor.
Indicação: É ideal para carros comuns de passeio que não passam por alterações constantes no conjunto do motor e na parte elétrica.
b) Motor de Partida com Avanço do Pinhão por Haste Deslizante com Engrenagem Intermediária:
Neste caso, o acionamento do motor é feito em duas fases. Primeiro, quando você aciona a chave de ignição e, por consequência, o solenóide. Então o garfo empurra o pinhão contra a cremalheira ao mesmo tempo que o induzido aciona uma das bobinas, fazendo com que o pinhão gire o bastante para encontrar a cremalheira.
Depois, o induzido entra na segunda fase. O motor de partida recebe a corrente elétrica de acionamento. Quando o motor do carro pega, o solenóide é desenergizado, a força da mola de retorno empurra a alavanca de comando que traz de volta o pinhão. Neste modelo, costuma-se usar engrenagens intermediárias que promovem uma redução na rotação do induzido transmitida ao pinhão.
Vantagens: Este modelo garante que o pinhão volte para o seu lugar quando o motor é iniciado. Isso evita desgastes desnecessários e prolonga a vida útil do conjunto.
Desvantagens: É a tecnologia mais avançada em motores de arranque. Consequentemente também é a mais cara. Não costuma vir de fábrica em carros populares.
Indicação: É um tipo de motor de arranque indicado para motores linha pesada porque aguentam motores mais potentes.
c) Motor de Arranque com Fuso de Avanço e Engrenamento por Inércia:
Esse nome comprido classifica o mecanismo mais simples de motor. Ao energizar o motor, o fuso começa a girar livremente sem engrenar com a cremalheira do motor. Já o pinhão, não. Ele se desloca para a extremidade do eixo do induzido. Quando o pinhão junta com a cremalheira, o torque do motor de partida é transmitido e o motor do carro é acionado. Ao pegar, o motor principal supera a velocidade do motor de arranque, o que faz com que o pinhão seja forçado por ambos os lados. Essa força somada à tração das molas de retorno, tiram o pinhão da cremalheira.
Vantagens: Funciona de uma forma muito simples, dependendo de menos engrenagens o que o torna o mais barato.
Desvantagens: Também não vem de fábrica. É um modelo mais ultrapassado. Não possui nenhum mecanismo de segurança para a volta do pinhão. E tende a forçar muito essa peça, o que acaba rompendo o metal.
Indicação: É indicado para carros antigos que possuem um motor menos potente.
6. PROBLEMAS COMUNS NO MOTOR DE ARRANQUE
A maioria dos problemas em motor de arranque estão ligados a maus hábitos do motorista. Ainda assim, é possível perceber quando o motor de arranque está com problemas antes de encaminhar o veículo a uma oficina às cegas.
Primeiro, dica geral: preste atenção no tempo entre o movimento da chave de ignição e o acionamento do motor. Se demorar mais que 10 segundos, é sinal de problema.
Alguma coisa está impedindo a ignição principal do carro. Neste caso, não insista em bater a chave. Normalmente esses problemas são causados por bateria e cabos, bobinas e velas de ignição ou combustível. Verifique esses itens primeiro pois, se o problema for o motor de ignição, você provavelmente terá que trocá-lo.
Dica: O motor de arranque pode ser substituído por um de outra marca, mas os componentes internos devem ser do mesmo fabricante. Você tem a opção de usar peças remanufaturadas. Veja o nosso texto sobre peça usadas.
Como identificar problemas no motor de arranque?
Vão aqui algumas dicas de como perceber problemas no motor de arranque de acordo com os barulhos:
a) Nenhum barulho mas o carro não pega!
Se nenhum ruído surgir quando você bater a chave, possivelmente é problema na bateria ou nas escovas, e o motor não está sendo energizado. As escovas ficam em contato com o induzido e são mais macias que as outras peças, é normal que gastem mais rápido. É possível consertar e não é caro.
b) Barulhos de metal batendo durante a partida
O pinhão está batendo no motor. Isso significa que o primeiro estágio da ignição foi cumprido, mas o próximo está com problema.
Para saber o que é, meça as espirais do induzido de acordo com as especificações do fabricante. Faça um teste, na oficina, para ver se não existe curto-circuito no sistema. Se não for curto, potencialmente é problema com o induzido, devido à falta de rotação ou de contato com o solenóide. Terá que trocar o rotor.
c) Zunido muito forte durante a partida
Se o barulho for um zunido forte, o motor de partida deve estar girando solto – sem engatar no motor. Novamente, isso significa que houve o primeiro estágio da ignição mas não o segundo. O mesmo teste acima é indicado.
d) Estalos rápidos e contínuos durante a partida.
Desgaste nos dentes do pinhão. Normalmente acontece quando a chave de ignição é mantida na posição por muito tempo depois que o motor está funcionando. Para isso, troque o pinhão.
e) Barulho de “enceradeira”
O pinhão é a peça que mais exerce esforço durante a partida. Nesse defeito a peça pode estar deslizando nas engrenagens. Deve ser trocada também.
f) Barulho ao ligar
Alguns carros fazem um barulho ao ligar ou quando chave de ignição é solta. Isso acontece por causa do desgaste da peça que atua como rolamento (a bucha), já que o motor de arranque não tem rolamentos para amortecer o impacto. A solução é substituir a peça.
g) Barulho muito grande na partida e motor falha ao ligar
Esse barulho pode ser causado pelo parafuso do automático. Às vezes essa peça se solta e começa a rodar no próprio eixo. A porca do cabo do positivo da bateria também pode ceder se for muito apertado. Para esses problemas, é melhor trocar o automático.
Outra situação acontece muito pouco, mas ainda é possível. Esse barulho pode indicar que o motor de partida agarrou a cremalheira, destruindo suas peças internas. Neste caso, a solução é trocar todo o conjunto.
Atenção: Descubra qual o motivo de ele ter agarrado a cremalheira antes do reparo. Pode ser que o problema volte e você passe pela mesma situação.
h) Um “tec” vindo do motor
É um barulho contínuo durante a partida. Esse é o resultado de defeito no automático. Ou o parafuso que regula o curso do pistão precisa de ajuste ou a bucha de encosto do impulsor não está na posição correta. Vai precisar trocar a peça também.
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